O Município de Vila Real anunciou que está a trabalhar no processo de inscrição da Procissão do Bom Jesus do Calvário, uma das maiores manifestações de fé que existem no concelho de Vila Real, no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial.
Como referiu a vereadora da Cultura, Mara Minhava “aquando da construção do Plano Estratégico Municipal de Cultura 2030 tínhamos a intenção de valorizar o património cultural e imaterial e a melhor forma que nós temos de valorizá-lo é identificá-lo, estudá-lo e depois, se possível inscrevê-lo no PCI”, relembrando que a autarquia aguarda o resultado da inscrição do Andor da Senhora da Pena, cuja candidatura foi formalizada no ano passado, e se prepara para avançar, no próximo ano, com o processo de inscrição do culto profano religioso que há entre a tradição de Santa Luzia e São Brás, do Pito e da Gancha.
Vítor Nogueira, responsável pela coordenação da investigação, salientou que do ponto de vista histórico “ao contrário da maior parte das procissões e manifestações religiosas desta natureza, cujas origens se perdem quase sempre no tempo, curiosamente, nós sabemos exatamente quando apareceu esta Procissão e porquê”, sendo precisamente este um dos aspetos que valorizam a própria história da Procissão do Bom Jesus do Calvário.
Esta manifestação religiosa aparece exatamente em 1854 numa altura em que a região do Douro vivia “o primeiro embate causado pelo aparecimento do oídio”, uma doença que ameaça a vinha. Nesse ano organiza-se pela primeira vez a Procissão do Bom Jesus do Calvário “invocando a proteção divina contra aquela calamidade”, lembrou o investigador, acrescentando que “só 30 anos mais tarde, em 1884, volta organizar-se a procissão do Bom Jesus do Calvário, coincidindo com o aparecimento da filoxera, o segundo grande embate pelo qual a região vitivinícola do Douro passou”, concluiu.
Este trabalho de investigação conta com a colaboração da Ordem Franciscana Secular, nomeadamente em articulação com o Frei Paulo e a ministra da Ordem Franciscana, Manuela Varela, cujo contributo tem sido fundamental nesta ligação à comunidade e ao direito consuetudinário. O presidente da Freguesia de Vila Real, Francisco Rocha, congratula-se com esta iniciativa que, em boa hora, o município de Vila Real decidiu levar a efeito, destacando a importância do trabalho desenvolvido em parceria com a Ordem Franciscana Secular e com pároco Frei Paulo.
Rui Santos, presidente da Câmara Municipal, disse que todo este trabalho tem uma lógica “ nós estamos a dar cumprimento ao delineado no Plano Estratégico Municipal da Cultura – Vila Real 2030, nomeadamente apostando na valorização do património imaterial”, sublinhando que “a procissão do Bom Jesus do Calvário é considerada uma das festas com maior devoção, envolvimento e participação do concelho” e que se no passado “surgiu como forma de pedir o socorro celeste contra a calamidade do oídio nas vinhas do Douro, talvez hoje o pedido não seja contra uma calamidade, mas contra as dificuldades que o Douro vive pois, mais do que nunca, é preciso fazer uma aposta forte na viticultura e, sobretudo, apoiar os agricultores, porque aquilo que é um dado adquirido para muitos pode, mais cedo do que tarde, deixar de o ser”.